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Mulheres à Cesta

Basquete é Cultura: Mulheres à Cesta


Por: Fábio Balassiano, jornalista que acompanha a modalidade desde 1992 Bala na Cesta

O Bert me ligou meio assustado de São Paulo: “Bala, tem um livro aqui na Livraria Cultura sobre o basquete feminino brasileiro. Parece ser legal”. Meio desconfiado, corri para o site e consultei o “Mulheres à Cesta”, estupendo trabalho de Claudia Guedes (foto abaixo à direita), atualmente professora universitária em San Francisco (EUA), sobre os primórdios do basquete feminino brasileiro. Comprei e devorei o livro, que tem até entrevista com a agora cantora Simone, em menos de três horas (as histórias são sensacionais!). A obra de Claudia, entrevistada no “Basquete é Cultura” de hoje, é daquelas que merecem ser lidas e eternizadas, tão grande é o cuidado com a memória da modalidade e de um grupo de meninas que fez aquilo que parecia impossível: no Mundial de 1971, Maria Helena e companhia ficaram em terceiro lugar no torneio disputado em São Paulo. Perderam na semifinal por causa de um sorvete. Sim, um sorvete. Saiba mais lendo o papo com Claudia Guedes, que até hoje procura uma editora para lançar o seu relato cujo projeto gráfico também merece elogios.

BALA NA CESTA: Como surgiu a ideia e qual foi o seu objetivo com o livro? Seu contato com o basquete feminino é tão longevo quanto a medalha de bronze do time de 1971?

CLAUDIA GUEDES: A idea veio de Ana Lucia, uma amiga minha. Estávamos conversando sobre a minha volta ao Brasil e ela me sugeriu que escrevesse uma história de um esporte brasileiro que ainda não tinha sido contada: a do basquetebol feminino. Passei a noite no computador pesquisando e não encontrei nada do Brasil a não ser no site da CBB. Daí decidi: iria escrever sobre “as meninas”. Comecei a minha pesquisa em 2002 ainda morando em Berkeley (EUA). Foi quando tive acesso aos documentos mais incríveis – jornais e revistas que falavam da primeira liga de basquetebol feminino do Estado de São Paulo.

— Em seu livro, você conta um pouco sobre aquela geração maravilhosa e sobre o torneio em São Paulo. Alguma coisa te surpreendeu, te chamou a atenção? Poderia nos contar a história do sorvete?
— O VI Campeonato Mundial, sediado em São Paulo, por si só deveria ser um livro. O que mais me intriga é o fato de o Mundial ter inspirado o público a olhar para o basquete feminino como uma esperança de vitórias num período de turbulência política. Quando fui entrevistar a Nilza (jogadora), ela me contou a história do jogo (no livro, Claudia conta todos os detalhes): elas ganhariam da Tchecoslováquia e iriam para a final até que um sorvete foi jogado na quadra, o Brasil levou uma falta técnica e perdeu a partida. Achei absurdo, mas assisti ao jogo e chorei muito. Elas iriam mesmo vencer. Acho que foi o sorvete mais detestado do país e creio que a pessoa que jogou nem se deu conta do resultado da molecagem.

— No começo da década de 70, o esporte feminino ainda era encarado com desconfiança no país. As jogadoras daquela época foram heroínas para a geração?
— Coloco o leitor para pensar:
1. Estas jogadoras já vinham jogando antes de 1970 e tinham como espectadores apenas as famílias e os namorados – coisa de dez a vinte pessoas por jogo;
2. Mesmo assim, elas lotaram o Ibirapuera em 1971 (aproximadamente 15 mil pessoas);
3. Motivados pela Copa do Mundo de futebol de 1970 ou não, os torcedores não apostaram no escuro. Estas atletas já tinham ganho inúmeros Sul-Americanos, estavam partindo para mais um Pan-Americano e tinham conquistado a permissão para as mulheres jogarem basquetebol nos Jogos Olímpicos, como está registrado no livro e comprovado com os artigos de jornais que foram publicados em Madrid.
Elas provaram que tamanho não era documento (a mais alta do grupo não tinha nem 1,85m). Elas formavam um time portador de técnica, tática e “graça”. Eu não sei para os outros brasileiros, mas estas 16 mulheres que entrevistei são, sim, minhas heroínas.

— Em nossa conversa pelo telefone você falou que não fez o livro por você, mas sim por Maria Helena (foto à esquerda) e as outras meninas. Poderia falar um pouco sobre isso?
— Este livro nunca me pertenceu – pertence a cada uma das entrevistadas. Eu fiz o livro para que as novas gerações nunca se esqueçam destas jogadoras. Elas são as pioneiras do basquetebol como esporte olímpico. Maria Helena, Heleninha, Marlene e outras fizeram do basquete a possibilidade educacional para muitas meninas que não teriam oportunidade de dignidade e respeito na sociedade brasileira. Esta história não pertence a ninguém mesmo, a nenhum historiador. Pertence a quem fez a história ser possível de ser contada com orgulho de ser mulher, brasileira e atleta.

— Por fim, uma pergunta: o time feminino começa o Mundial da República Tcheca amanhã. Você irá acompanhar o torneio? Há alguma expectativa para a competição?
— Torço muito pelo basquete feminino. Virei fã depois que escrevi o livro e vou torcer muito. Já assinei um canal para ser visto pelo computador, pois dou aulas na San Francisco State University e este semestre estou coordenando 13 projetos de pesquisa em Educação Física para crianças de escolas públicas. Minha expectativa vai além da competição: tenho a esperança de que o Brasil olhe para o basquete feminino como se olha para o futebol, para as corridas de Fórmula-1. Não é fácil chegar aonde estas meninas chegam. A beleza de tudo isto é reconhecer nesta nova geração a força da mulher brasileira que também estava presente na geração de 1970. Esta força estranha que diz o tempo todo: “é preciso ter raça, é preciso ter gana sempre!”.

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