Profissional da área de educação, Claudia Guedes nunca trabalhou em jornais ou revistas. Mas sempre foi apaixonada por ouvir e contar boas histórias, seja na sala de aula ou nas quadras, como professora de Educação Física, no ensino básico, ou Historia do Esporte e Antropologia em universidades.
No início dos anos 2000, de volta ao Brasil, após passar uma temporada nos Estados Unidos, Claudia Guedes, em visita às Faculdades Integradas Alcântara Machado (FIAM), em São Paulo conheceu Norma Pinto de Oliveira, mais conhecida como Norminha, uma das maiores jogadoras do basquete brasileiro de todos os tempos. “Eu estava em busca de uma boa história para contar quando encontrei a Norma.”
Norminha foi jogadora da Seleção Brasileira feminina que, em 1965, a convite da FIBA (Federação Internacional de Basquete) disputou os amistosos contra a Tchecoslováquia (atual República Tcheca), em Madri, na Espanha. “Eu não fazia ideia que a partida serviu como teste para a inclusão da modalidade nos Jogos Olímpicos. Me senti na obrigação de compartilhar com o mundo, o valor e a importância dessas mulheres para a história do esporte.”, conta Claudia.
Mulheres à Cesta
O primeiro passo foi conversar com todas as jogadoras que participaram daquele momento. Foram 5 anos de inúmeras horas de pesquisas. A maioria diretamente com atletas, através de entrevistas, e avaliação dos materiais originais do basquete feminino brasileiro. Fotos, cartas, súmulas e arquivos vindos de clubes, federações estaduais e da Confederação Brasileira de Basquete foram todos acessados presencialmente. Uma das ex-jogadoras mais difíceis de ser contactada foi Simone Bittencourt de Oliveira. Isso mesmo, a cantora Simone fez parte da origem da seleção de basquete feminino no Brasil.
“Foi bem difícil conseguir entrar em contato com a Simone. Tentamos falar com sua assessoria, mas nunca conseguíamos uma resposta positiva. Até que uma pessoa me disse que tinha o endereço dela, então resolvi tentar. Daqui de San Francisco, enviei uma carta para sua casa contando sobre projeto e perguntando se poderia entrevistá-la. Pouco tempo depois, recebi uma ligação e quem estava do outro lado? Ela, Simone!”.
Com o material em mãos, Claudia se deparou com outro desafio. “Eu tentei vender o projeto do livro para algumas editoras, mas sempre recebia as mesmas respostas. Me diziam que se fosse sobre a seleção masculina até teriam interesse, porque acreditavam que só assim conseguiriam vender o livro.”
A alternativa foi usar recursos próprios, a maior parte veio da venda de um apartamento. Com a obra pronta, Claudia infelizmente não conseguiu colocar todas as suas cópias à venda devido alguns problemas técnicos na produção.
E como o dinheiro acabou, a ideia de transformar a obra em documentário teve que ser engavetada, mas não por muito tempo. “Durante todo processo, compartilhei minhas experiências com minha mentora, Roberta Park, que faleceu em 2018 e, sem eu saber, me deixou uma certa quantia em seu testamento para que eu pudesse fazer o tão sonhado documentário do Mulheres à Cesta.”, se emociona.
O documentário foi lançado no site oficial do projeto no dia 6 de setembro de 2019. O longa teve Roteiro e Direção de Silvia Spolidoro e Hellen Suque, com Produção Executiva da própria Claudia Guedes.
Atualmente, a frente da Diretoria de Pesquisas do Laboratório de Pesquisas em Historia do Esporte da San Francisco State University, Claudia Guedes continua a inspirar gerações. “Meu objetivo é conscientizar os fãs veteranos do basquete sobre o trabalho incrível que as mulheres daquela seleção fizeram, e inspirar a nova geração a contar não só essas histórias, mas criar suas próprias para as gerações que estão por vir”.
O documentário pode ser visto, gratuitamente, no site do Projeto
Mulheres à Cesta