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Mulheres à Cesta

Simone e eu, possibilidades impossíveis.
Eu nasci dia 26, ela dia 25. Meses diferentes de um calendário sem tempo. Dias misturados na essência do impossível. Ela no Norte, eu no Sul.

Um dia ela começou a jogar basquete e eu a gostar de basquete. Um dia, ela começou a cantar e eu na voz dela afinava meu pequeno coração que crescia descompassado.

Ela continuou caminhando e cantando e eu fui aprender a contar histórias.

Aprendia com ela os valores de uma vida, as vezes pelos jornais e revistas, noutros pela televisão. Acompanhava pelo rádio as novas músicas. Gravava em fitas cassete os shows da televisão. Não era raro ouvir: “Por que você gosta tanto de alguém que nem sabe que você existe?” Mas ela sabia, eu desenhava para ela, escrevia cartas e ela sempre respondia.

Em uma infância difícil, por causa das agruras dos adultos, eu tinha um paraíso secreto de melodias, caixas de recortes de revistas, jornais e fotografias.

Teve um dia em que pensei que fosse encontrá-la. Eu a convidei para o meu aniversário e ela marcou um show para o dia seguinte na minha cidade, mas sem idade, fiquei em casa. Ela não foi na minha festa, mas estava pertinho de lá e era isso que importava. “Não existia distância”. “Maior que meu amor”, estava a esperança de que um dia, tomaríamos sorvete numa praça em qualquer lugar.

De todos os impossíveis, este, segundo outros, era o “sonho impossível”.

Ela não acreditava nisso, passei a não acreditar também. Troquei com o “Vendedor de Sonhos” minha bolinha de gude para não perder a teimosia de criança.

Cresci, sem perder a teimosia, ela distante, também cresceu e mais distante ficou. Guardei na carteira a foto com carinho. No meu livro favorito, o cartão com a sua letra marcava as páginas das histórias que aprendia a contar.

Mudei de cidade, de estado, atravessei o mar.

Ela também.

Antes, porém, ela fez uma história que eu podia contar.

Escrevi um livro, plantei uma árvore, tive um filho…

Saltando sobre os impossíveis, falei com ela, a voz cruzou as linhas que foram para a telinha.

Eu a vi, com meu filho, do outro lado da linha, em um tempo em que os encontros ficaram impossíveis.

Ela se apaixonou pela historia que escrevi, cantou e chamou as pessoas para ler e ver.

Num determinado dia, esta historia da bola que também era dela ganhou um premio e ela por sua historia na musica, também foi premiada. O mundo reconhecia duas vezes suas duas historias, no velho continente

Ela no sul, e eu no norte.

Duas horas de distancia… e

Uma escolha.

Escolhi o impossível, que por causa dela se fez realidade.  Eu a vi de prêmio na mão. Abracei, ri junto, chorei de emoção. Recolhi meu prêmio no brilho dos olhos dela.

Ela falou de generosidade, amor e respeito.

Dividimos a refeição, o vinho a confiança.

Teve sorvete na praça.

Assim em estado de graça, testemunhei nos olhos de quem nos servia, outro sonho realizado de quem passou a acreditar na possibilidade do impossível.

Obrigada Simone

“O que passou, passou, mas o que passou luzindo, resplandecerá para sempre.” Johann Goethe.

Um Feliz Ano Novo!!!!!

Claudia Guedes
Fotos de Tereza Eugênia Paes e arquivo pessoal

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