Desistências silenciosas: por que meninas param de jogar basquete antes dos 18 anos?
Falta de incentivo, machismo, pressão emocional, ausência de estrutura ou invisibilidade? O abandono precoce do esporte feminino tem muitas causas — e todas merecem ser ouvidas.
Elas chegam animadas, muitas vezes ainda pequenas, com uniforme grande, sorriso no rosto e bola nas mãos. Os treinos viram rotina, os finais de semana são ocupados por campeonatos, e o amor pelo basquete cresce junto com elas. Mas em algum ponto do caminho, essa trajetória é interrompida. Sem lesão, sem despedida oficial, sem explicações públicas. Só silêncio. Um sumiço das quadras.
A evasão de meninas do basquete antes dos 18 anos é uma realidade pouco discutida, mas que precisa ser enfrentada. Por que tantas jovens deixam de jogar antes mesmo de alcançar a fase adulta? Quais barreiras são invisíveis para quem vê de fora, mas insuportáveis para quem vive de dentro?
Falta de estrutura, sobra de desafios
Muitas meninas param de jogar porque simplesmente não há mais onde jogar. Em diversas cidades brasileiras, os times femininos desaparecem nas categorias de base. Após os 14 ou 15 anos, faltam clubes, campeonatos, técnicos dispostos e apoio financeiro. O basquete feminino ainda é visto por muitos como um projeto “de passagem”, enquanto o masculino continua a ser tratado como profissão.
Para algumas atletas, a decisão de parar vem acompanhada de frustração: “Eu jogava desde os 10 anos, mas quando completei 16, não tinha mais time na minha cidade. Comecei a trabalhar e deixei o basquete. Doeu muito, mas eu não via mais futuro”, conta uma ex-jogadora do interior de Minas Gerais.
Pressões invisíveis, efeitos reais
Outras meninas enfrentam o abandono por dentro. A pressão estética, a comparação com os meninos, o machismo no ambiente esportivo e a constante necessidade de provar o próprio valor cobram um preço emocional alto. Há também quem sofra com assédio, silenciado por medo de retaliações ou falta de canais de denúncia. E há quem desista por cansaço: de não ser levada a sério, de não ter apoio em casa, de não enxergar representatividade no topo.
“Eu ouvia que era muito masculina por jogar basquete. Até das minhas amigas na escola. Chegou uma hora que isso pesou. Eu só queria ser aceita”, revelou outra jovem que deixou o esporte aos 17.
Persistir também é resistência
Apesar das dificuldades, muitas seguem. Com criatividade, adaptando treinos, buscando campeonatos por conta própria, viajando horas para treinar e driblando obstáculos. A permanência de meninas no basquete, porém, não pode depender apenas da força individual. É preciso criar políticas, ambientes seguros, investimentos estruturais e visibilidade para que elas saibam que têm lugar — e futuro — no esporte.
A evasão feminina não é um problema individual. É coletivo. É social. E é urgente.