No Brasil, é comum ouvir que o talento esportivo nasce “na rua”. Mas quando falamos de basquete feminino, essa rua quase sempre precisa ter uma quadra coberta, com tabela, iluminação, segurança — e portas abertas. É aí que entram os ginásios públicos, espaços que deveriam ser base de formação e acesso democrático ao esporte.
Mas será que estão cumprindo esse papel?
Quantos estão abertos, ativos e realmente acolhem meninas que querem jogar basquete?
Entre a estrutura e o abandono
O Brasil tem milhares de ginásios públicos espalhados em escolas, centros esportivos e equipamentos comunitários. Muitos, no papel, oferecem “acesso ao esporte”. Mas na prática, há lacunas enormes: quadras fechadas à noite, falta de manutenção, ausência de profissionais qualificados, ou ainda, ausência total de times e turmas femininas.
Em muitas cidades, os ginásios funcionam como espaços de convivência ou para escolinhas de futebol masculino. O basquete feminino — quando existe — é encaixado em horários alternativos, com pouca divulgação e zero prioridade.
Ginásios que formam ou ginásios que excluem?
A existência do espaço físico não garante acesso real. Se não há oferta de times femininos, se não há campanhas para atrair meninas, se os professores não têm formação para lidar com questões de gênero no esporte, o que poderia ser um lugar de formação vira um lugar de afastamento.
“Eu ia na quadra perto de casa, mas nunca tinha menina jogando. Quando tentei participar, fui ignorada. Disseram que não tinha ‘turma pra mim’”, conta uma jovem atleta de 13 anos, de São Paulo.
Essa exclusão sutil — que não nega diretamente, mas também não acolhe — afasta dezenas de meninas todos os anos.
A força dos que fazem acontecer
Apesar dos obstáculos, há profissionais e comunidades que transformam os ginásios em verdadeiros celeiros de formação. Projetos de base com foco em meninas, parcerias com escolas, iniciativas lideradas por ex-atletas ou professoras comprometidas têm garantido que esses espaços cumpram, de fato, seu papel social.
Eles provam que, com gestão, vontade política e apoio local, é possível usar a estrutura já existente para plantar um futuro melhor para o basquete feminino.